15 agosto, 2017

A Trindade e a Divindade de Cristo; respostas a um jeovista inquieto

Por Sandro Moraes

Aproveitava poucos dias atrás uma promoção para comprar livros teológicos numa livraria evangélica que oferecia consideráveis descontos. Encontrei estudantes de teologia e logo estávamos debatendo temas teológicos. Fomos abordados, repentinamente, por um jovem que ao ouvir nossa conversa começou a fazer muitas e variadas perguntas de natureza filosófica. Fui respondendo e com razoável desempenho, creio (atribuo ao treinamento apologético autodidata que me impus anos atrás). A leitura de dezenas de livros de apologética, ao lado da teologia histórica, tem sido meu maior prazer nos estudos teológicos. Coincidência ou providência divina (creio mais na segunda opção) tenho sido ultimamente abordado por pessoas em livrarias seculares ou evangélicas com questionamentos que exigem tratamento apologético nas respostas que procuro elaborar. 
De volta à última abordagem, o jovem despendeu grande esforço, principalmente para, mais do que entender a doutrina da Trindade, desqualificá-la como ilógica. Desconfiei que se tratava de um jeovista, adepto das testemunhas de Jeová. Respondi que a doutrina em questão só careceria de lógica se ela guardasse uma contradição, o que não é o caso. Só haveria contradição se o Pai, o Filho e o Espírito Santo fossem iguais no mesmo sentido, qual seja, se os três fossem uma e três pessoas ao mesmo tempo ou um e três deuses simultaneamente. Haveria aí uma grave contradição. Mas como eles são três pessoas e um Deus, portanto, o sentido em que são um não é o mesmo sentido em que são três. Há um mistério, não uma contradição. Vendo que ele não estava satisfeito com a resposta, repliquei que não podemos entender completamente a doutrina posto que mentes finitas não podem entender com inteireza a infinitude de uma mente divina ou a ontologia de um Deus. No que ele respondeu: 

- Então não podemos conhecer a Deus! 

- Podemos, sim! Podemos conhecer tudo o que Deus decidiu revelar acerca de Si mesmo ao homem. Isso podemos conhecer! repliquei.

Em seguida o jovem cético pediu evidências de que Jesus Cristo é o mesmo Deus que o Deus Pai. 

Passo a elaborar as questões, não como as respostas que dei ipsis litteris; para o que respondi de forma concisa durante o diálogo ou embate de ideias, aqui estarão respostas ampliadas e mais bem elaboradas.

Como Deus Filho, Cristo só poderia ser Deus no mesmo sentido que o Pai e igual ao Pai. Se fosse um outro "deus" diferente do Pai, ele não seria Deus de maneira nenhuma, porque não podem existir dois seres iguais. Não podendo existir dois deuses iguais, eles seriam diferentes em suas essências, e sendo diferentes qualquer atributo ou virtude que faltasse em um residiria no outro e vice-versa. E se um deus carece de virtude ele não seria perfeito, não seria, portanto, um Deus porque um ente para ser Deus precisa ser perfeito e para ser reconhecido em sua perfeição não pode lhe faltar nada. Não pode haver dois deuses infinitos; crer que Cristo seja um deus diferente e distinto do Pai é politeísmo; a crença na existência de vários deuses, esta sim, é irracional e ilógica. Vários deuses significariam "deus nenhum" porque seres imperfeitos não podem ser Deus. Se o Cristo é Deus e Javé é Deus, eles só podem ser o único e mesmo Deus, coiguais em glória, majestade e eternidade, embora distintos nas pessoas, ou, como diz o Credo Atanasiano, uma Trindade na Unidade, não confundindo as pessoas, nem separando as substâncias.

O jovem cético também questionou a Trindade pelo fato de a palavra não ser encontrada na Bíblia. A Trindade é uma conceituação filosófica e pedagógica para explicar o que está revelado nas Escrituras de modo disperso. Não obstante o termo Trindade não estar na Bíblia, o conceito está presente e é revelado nela. A Trindade é fruto da construção teológica que procura dar ordem e sistematização ao que a Escritura revela de modo não ordenado.

Quanto às provas de que Cristo é Deus, eis as minhas respostas: todos os títulos de divindade de Javé no Antigo Testamento são atribuídos a Jesus Cristo no Novo Testamento.


No AT Javé é o único Senhor e Deus

 
Eu sou o Senhor, e não há outro; fora de mim não há Deus; eu te cingirei, ainda que tu não me conheças; Para que se saiba desde a nascente do sol, e desde o poente, que fora de mim não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro (Isaías 45:5,6).


Cristo também é Senhor e Deus

 
Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz (Is 9.6).


Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, E chamá-lo-ão pelo nome de EMANUEL, Que traduzido é: Deus conosco (Mt 1.23). 


E Tomé respondeu, e disse-lhe: Senhor meu, e Deus meu! (João 20:28)


Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo (Tito 2.13).


No AT Javé é o Criador

 
No princípio criou Deus o céu e a terra (Gênesis 1:1)


Assim diz o Senhor, teu redentor, e que te formou desde o ventre: Eu sou o Senhor que faço tudo, que sozinho estendo os céus, e espraio a terra por mim mesmo (Isaías 44.24 ).


Eu fiz a terra, e criei nela o homem; eu o fiz; as minhas mãos estenderam os céus, e a todos os seus exércitos dei as minhas ordens (Isaías 45.12).


Porque assim diz o Senhor que tem criado os céus, o Deus que formou a terra, e a fez; ele a confirmou, não a criou vazia, mas a formou para que fosse habitada: Eu sou o Senhor e não há outro (Isaías 45.18).


No NT Cristo é o Criador

 
Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez (João 1.3).
Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele (Colossenses 1.16).


No AT Javé é o único Salvador

 
Eu, eu sou o Senhor, e fora de mim não há Salvador (Isaías 43.11).


Anunciai, e chegai-vos, e tomai conselho todos juntos; quem fez ouvir isto desde a antiguidade? Quem desde então o anunciou? Porventura não sou eu, o Senhor? Pois não há outro Deus senão eu; Deus justo e Salvador não há além de mim (Isaías 45.21).


No NT Cristo é o Salvador

 
Não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não há outro nome dado entre os homens, em que devamos ser salvos (Atos 4.12).


E que é manifesta agora pela aparição de nosso Salvador Jesus Cristo, o qual aboliu a morte, e trouxe à luz a vida e a incorrupção pelo evangelho (2 Timóteo 1.10). 


No AT Javé é a única Rocha

 
Não vos assombreis, nem temais; porventura desde então não vo-lo fiz ouvir, e não vo-lo anunciei? Porque vós sois as minhas testemunhas. Porventura há outro Deus fora de mim? Não, não há outra Rocha que eu conheça (Isaías 44.8).


Para anunciar que o Senhor é reto. Ele é a minha rocha e nele não há injustiça (Salmos 92.15).


No NT Cristo é a Rocha 


E todos bebera, da mesma bebida espiritual, porque bebiam da rocha espiritual que os acompanhava; e essa rocha era Cristo (1 Coríntios 10.4).

No AT Javé não divide sua glória com ninguém!

 
Eu sou Jeová; este é o meu nome: a minha glória não a darei a outrem, nem o meu louvor às imagens esculpidas (Isaías 42:8).


Por amor de mim, por amor de mim o farei; pois como seria o meu nome profanado? A minha glória não a darei a outrem (Isaías 48.11).


No NT Javé reparte sua glória com Cristo!

 
agora glorifica-me tu, Pai, contigo mesmo com a glória que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo (João 17:5).


No AT Javé é o EU SOU

 
Disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU; e acrescentou: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU enviou-me a vós (Êxodo 3.14).


No NT Cristo é o EU SOU

 
Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: Antes que Abraão fosse feito, EU SOU (João 8:58).


Observe que nessa passagem os judeus entenderam claramente a afirmação de Jesus de ser Deus, por isso pegaram pedras para matá-lo por blasfêmia (Cf Mc 14.62; 18.5,6).


No AT Javé ó o Pastor

 
O Senhor é o meu pastor; nada me faltará (Salmos 23:1).


No NT Cristo é o Pastor

 
Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas (João 10:11).


No AT somente Javé pode ser adorado


No Antigo Testamento é proibida a adoração a qualquer ser que não seja Deus (Êxodo 20.1; Deuteronômio 5.6-9). 

No NT Cristo é aceita ser adorado

No Novo Testamento seres humanos (Atos 14.15) e anjos (Apocalipse 22.8,9) recusaram receber adoração. Jesus Cristo, por outro lado, reivindicou sua divindade ao aceitar ser adorado em diversas ocasiões (Mateus 8.2; 9.18; 14.33; 15.25; 20.20; Marcos 5.6; João 9.38; 20.28).

No AT Javé é o Juiz de todos os povos
 
Suscitem-se as nações, e subam ao vale de Josafá; pois ali me sentarei para julgar todas as nações ao redor (Joel 3.12).


No NT Jesus é o Juiz de todos os povos

 
Veja Mateus 25.31-46


No AT Javé é o Primeiro e o Último

 
Assim diz Jeová, rei de Israel, e o seu Redentor, Jeová dos exércitos: Eu sou o primeiro e eu sou o último, fora de mim não há Deus (Isaías 44.6).


No NT Jesus Cristo é o Primeiro e o Último

 
Quando o vi, caí aos seus pés como morto; e ele pôs a sua destra sobre mim, dizendo: Não temas; eu sou o primeiro e o último e o que vivo; fui morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos, e tenho as chaves da morte e do Hades (Apocalipse 1:17,18).


No Salmo 110 há o registro de um diálogo entre o Deus Pai e o Deus Filho

 
Disse o Senhor (Javé) ao meu Senhor (Jesus): Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés (Salmos 110.1).


Javé e Jesus Cristo: Duas pessoas, um só Deus

 
Como não poderiam existir dois deuses por razões já expostas anteriormente, os títulos de Javé dados a Jesus significam que eles são o mesmo e único Deus; e, à despeito de toda evidência da identidade de Cristo, há severas consequências para quem não reconhece quem Ele é!


Por isso eu vos disse que morrereis em vossos pecados; porque se não crerdes que Eu Sou, morrereis em vossos pecados (João 8:24).


Caminhando para o final

 
Quanto ao jovem cético da livraria, perguntei-lhe ao final da conversa se ele era agnóstico ou adepto de alguma religião. Ele disse que não era seguidor de nenhuma corrente religiosa, tampouco agnóstico. Pouco depois um dos vendedores da livraria me disse que ele é jeovista (integrante da seita Testemunhas de Jeová) e que às vezes aparece por lá para constranger evangélicos com capciosas questões. Pra azar dele naquele dia havia alguém minimamente preparado. 


Esse fato me mostrou o quanto é importante ao cristão ter treinamento em apologética. Não apenas para vencer debates, mas para abrir portas para a evangelização. Espero que a conversa que tive com ele surta efeito. Oro agradecendo a Deus pela instrumentalidade no Espírito Santo e para que aquele dia seja na vida daquele jovem questionador apenas o início de uma trajetória numa estrada pavimentada para a salvação.    

2 comentários:

Rev. João d'Eça disse...

A leitura de Isaías 6, onde na Bíblia dos TJs, o profeta vê a "Jeová", diz ele: "meus olhos viram o SENHOR"... Em paralelo com João 12.34 as, onde o apóstolo, cita o texto de Isaías e aplica a Jesus, combinado com Atos 28.24 as, onde o apóstolo Paulo, usa a mesma citação de Isaías e aplica ao Espírito Santo, desarma qualquer TJ.

Sandro Moraes disse...

Esse seu comentário, Rev. Deça, me inspirou a escrever, futuramente, o cumprimento das profecias messiânicas do AT na vida e obra de Cristo.