20 julho, 2010

BISPOS, APÓSTOLOS, PAIPÓSTOLO, PATRIARCA: TÍTULOS DA BLINDAGEM MORAL


“Ele deu uns como apóstolos, outros como profetas, outros como evangelistas, outros como pastores e mestres, tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos para o trabalho do ministério, para a edificação do corpo de Cristo” (Efésios 4.11,12 – Versão Sociedade Bíblica Britânica)

Separados do mundanismo para trabalhar na obra de Deus, os santos possuem títulos que expressam cada função no Reino de Deus. São aperfeiçoados, capacitados como ministros para a construção do corpo de Cristo que é a Igreja. Os ministros de Deus são apóstolos, evangelistas, pastores e mestres ou doutores. O catolicismo, seguindo a lógica de sua apostasia, inventou outros títulos, estranhos às Escrituras: freiras, padres, monsenhores, bispos, arcebispos, cardeais e papas.  

Igrejas evangélicas também apresentam suas versões apóstatas. Hodiernamente a designação pastor já não é mais suficiente, não obstante Cristo ter se identificado como o bom pastor: esse título já se tornou lugar comum. Moda nas duas últimas décadas, os títulos bispo e apóstolo, de tão associados à pompa como expressão de domínio político, banalizaram-se: títulos em demasia para alimentar disputas pelo poder político-financeiro e fogueiras de vaidades. E muitas igrejas prosseguem se perdendo em títulos.


Ser chamado de pastor já não basta, e, incrível, aparentemente agora nem bispo ou apóstolo. Existem muitos apóstolos na arena religiosa nacional. É necessário então criar outros títulos. E a nova moda teológica? Paipóstolo, patriarca. Hierarquização dos títulos, verticalização dos ministérios, apenas para deixar claro quem manda em quem, quem obedece quem. Títulos sem nenhuma relação com a verdadeira espiritualidade, são puras expressões de afirmação humana de poder para controle de gado, não pastoreio de ovelhas. Daí a preocupação com títulos e cargos que nada tem a ver com a liderança genuinamente cristã. 

Os apóstolos nem poderiam existir hoje. E é fácil comprovar isto biblicamente! 

O apóstolo Pedro, no primeiro capítulo do livro de Atos chama a atenção para a necessidade de substituição de Judas Iscariotes no grupo dos 12 apóstolos. E Pedro apresentou os critérios que credenciavam alguém ao apostolado:

“Tome outro o seu ministério. É necessário, pois, que, dos homens que nos acompanharam todo o tempo em que o Senhor Jesus viveu entre nós, começando desde o batismo de João até o dia em que dentre nós foi recebido acima, um destes se torne testemunha conosco da sua ressurreição. Apresentaram dois - José, também chamado Barsabás, que tinha por sobrenome Justo, e Matias. E orando, disseram: Tu, Senhor, que conheces os corações de todos, mostra qual destes dois tens escolhido, para tomar o lugar deste ministério e apostolado, do qual Judas se transviou para ir ao seu próprio lugar. A respeito deles deitaram sortes; caiu a sorte sobre Matias, e foi ele contado com os onze apóstolos (Atos 1.20b-26 - Sociedade Bíblica Britânica).

Observe que para alguém se tornar apóstolo era necessário ter andado com Jesus e ser testemunha da ressurreição do Senhor. 

Pergunto: alguém hoje poderia preencher esse pré-requisito? Obviamente, NÃO!!! Ninguém poderia andar com Jesus fisicamente porque ele ascendeu ao céu há quase dois mil anos. Ele hoje habita nos crentes pelo Espírito Santo. Alguém poderia ser testemunha oficial da ressurreição? A resposta é um sonoro NÃO pela mesma razão!

O apóstolo Paulo reforça a mensagem. Para refutar alguns de Corinto e de outros lugares, que questionavam a genuinidade do apostolado dele, Paulo apresentou suas credenciais que legitimavam seu ministério.

“Não sou eu livre? Não sou apóstolo? Não vi eu a Jesus nosso Senhor? Não sois vós obra minha no Senhor? Se eu não sou apóstolo para os outros, ao menos para vós o sou; porque vós sois o selo do meu apostolado no Senhor. Esta é a minha defesa para com os que me acusam” (1 Coríntios 9.1-3 - Almeida Revisada Imprensa Bíblica)

Paulo havia visto o Senhor Jesus da mesma forma que os demais apóstolos (Vide Atos 9.1-9; 22.6-16; 26.12-18). Ele adicionou a informação de que o seu ministério produziu verdadeiros frutos espirituais que o confirmavam como apóstolo, a saber: os coríntios convertidos.

Atualmente NINGUÉM poderia ver o Senhor Jesus Cristo do mesmo modo que os verdadeiros e únicos apóstolos. Únicos exatamente por isso: andaram com Jesus em pessoa, e viram o Senhor ressurreto fisicamente. Hoje ninguém poderia vê-lo assim, até porque não haveria mais necessidade disso.

Usar o título de apóstolo hoje é desobediência, é ir além do que a Palavra de Deus permite: “Não ultrapassem o que está escrito” (1 Coríntios 4.6 – NVI).

O que dizer então dos termos paipóstolo ou patriarca. O primeiro é apêndice da insanidade e demência, o segundo um desrespeito ao contexto histórico.  

Quando olhamos para os apóstolos e até alguns bispos da atualidade encontramos forte evidência de que os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos. Pregam o demoníaco evangelho da prosperidade em nome de Jesus; possuem propriedades, incluindo mansões e jatos, o que é incompatível com o salário de um pastor; levam um estilo de vida completamente diferente de Jesus e dos apóstolos; o evangelho que vivem e pregam se coaduna bem com a agenda neoliberal e capitalista todavia não com o Reino de Deus. O deus que eles servem é mamom. 

E por que multidões os seguem? Porque tais líderes não pregam o Evangelho da renúncia, do negar a si mesmo, quando cada um toma a sua cruz e segue a Cristo. Ensinam o “evangelho” do aceite a si mesmo, ame a si mesmo e não ao próximo, não carregue a sua cruz, antes faça o sacrifício de esfolar a si mesmo para alimentar as ilícitas riquezas dos “bem-aventurados” apóstolos pós-modernos e siga o falso Jesus.

Quando Jesus realizava suas maravilhas, multidões o seguiam. Quando essas pessoas eram confrontadas com o Evangelho da auto-renúncia, as multidões diluíam.  Lamentavelmente as multidões dos nossos dias são a evidência de que o falso evangelho que está sendo amplamente pregado é uma fórmula de sucesso. O Evangelho da Cruz parece não ter o mesmo poder de atração, porque não vai ao encontro dos desejos egoístas mais antagônicos a Deus.

Para muito além da manifestação densa de narcisismo, o título pomposo de apóstolo é o escudo perfeito. É mais fácil questionar moralmente um simples "pastor". Já o termo apóstolo carrega em si a aura da blindagem moral, da intocabilidade imoral. E as multidões sem discernimento porque não convertidas, garantem a espetacularização da neo modalidade de idolatria: a adoração dos superungidos que consolida os anos dourados do estelionato da fé. 

"Pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém!" (Romanos 1.25 - Almeida Corrigida e Revisada Fiel).


Bispos, apóstolos, paipóstolo, patriarca. Arrisco qual será o próximo título da sedução: Potentado!





Por Sandro Moraes
   
  


São Luís-MA / Brasil





4 comentários:

Unknown disse...

Olá sandro, de fato o que ocorre hoje em nossos dias é um endeusamento do homem, que o faz usando o nome de jesus para seus objetvos de incharem seus egos e se colocarem em posição intocavél de "homens escolhidos por Deus", na minha opnião um verdadeiro homem escolhido por Deus de fato, não teria a audácia de se pronunciar como tal nos dias de hoje, antes falaria apenas da palavra de Deus e seu conteúdo maravilhoso.
Sempre fui contra esses títulos e nomeações desde que converti a jesus aos meus dezessete anos, que quando me falaram de apótolos ou qualquer outra nomeação, que me vinha a mente será isso possível? por que são considerados assim? E quanto aos líderes endinherados, também sempre achei estranho com tanto dinheiro e falando sobre salvação, desigualdade social, fazer o bem, por eles não doam parte de suas fortunas para pessoas mais necessitadas eu particulamente não entendo, mais as justificativas não faltam para manter seu padrão de vida e "conforto", conforto não pois do modo em que vive não caracteriza como conforto talvez ja se caracterize como ostentação.
Sandro se possível eu queria que voce se solber algo sobre blasfemia contra o espirito sano me respondece pois tenho uma duvida, quando os farizeus blafemaram e jesus disse que não haveria perdão para sempre, eu queria saber se mesmo se eles se arrependecem Deus mesmo assim não perdoaria eles?
Obrigado.

Sandro Moraes disse...

Oi, Marcos, bem vindo!

Com relação a blasfêmia contra o Espírito Santo que não será perdoada, tem sido compreendida por muitos cristãos como a obstinação rebelde e resistência durante toda uma vida ao chamado de Deus para a salvação. É o coração impenitente e incoverso que não se abre para que Jesus faça morada nele. Era o caso dos fariseus que deram crédito à mentira e recusaram a verdade, rejeitaram Jesus Cristo, rejeitaram o salvador. Particulamente é uma visão que considero coerente, até porque ninguém sai por aí mandando palavrões ao Espírito Santo, contudo se alguém fizer isto, revela um grau elevadíssimo de rebelião, e talvez seja o caso de alguém que jamais será perdoado, precisamente porque rejeitará o perdão divino até o fim da vida.

Abraço!

Rô Moreira disse...

Olá, realmente isso tudo acontece com o consentimento das próprias ovelhas, que preferem o evangelho de facilidades que eles pregam. Muito bom seu texto. Paz!

Sandro Moraes disse...

Rô, bem vinda a este espaço. Apreciei muito o seu blog e os seus textos. Particularmente aquele que fala sobre o casamento, bom, ele derruba os mitos da perfeição e estabilidade e mostra como é tão simples turbinar o relacionamento, nós é que complicamos. Parabéns pelo seu blog!

Valdecy, vc escreve sobre política, educação, cultura... de forma pedagógica e com muita inteligência. Recomendo a leitora das suas postagens. Gostei da comparação do mito da caverna com a educação no país. Passarei com mais calma para deixar um comentário. Abraço!