01 outubro, 2022

Eleições, candidatos e grupos como expressão de uma sociedade dividida

Antes do dia das eleições passamos semanas ouvindo a propaganda eleitoral gratuita com as sucessivas promessas dos candidatos. Muitas delas são irrealizáveis por serem impossibilidades lógicas mesmo, ou simplesmente por só fazerem parte das estratégias de comunicação ao eleitor, sem habitar na mente, no entanto, a intenção de realizar essas promessas caso o candidato seja eleito. 

Mas a ideia desta reflexão não é tratar de promessas não cumpridas; é investigar o que se esconde sob as promessas e projetos apresentados ao eleitorado.

Por todo o país constata-se que, mais que candidatos e partidos políticos, o que há são grupos de pressão. Os candidatos e partidos representam esses grupos e seus interesses: agronegócio, hospitais privados, escolas e universidades públicas e privadas, professores, aposentados, policiais, médicos, enfermeiros, empresários, funcionários, católicos, protestantes, ateus, crentes, ecumênicos, aborcionistas, grupos pró-vida, supremacistas brancos, supremacistas homossexualistas, sindicatos... Uma lista ad infinitum.

Mas qual o problema da existência de grupos de pressão?

São basicamente dois: o primeiro é a divisão da sociedade. Existem interesses ou projetos de grupos, não existem projetos ou interesses da nação. Nos órgãos legislativos temos políticos representantes da carne, do armamento da população, dos desarmamentistas, dos ambientalistas, das mulheres, dos excluídos, mas a nação não está representada; ela está, isso sim, fragmentada, modificada, descaracterizada, irreconhecível em seus anabolizados conflitos de interesses e de pessoas.

O segundo problema está no fato de que um grupo de pressão deseja obter privilégios em prejuízo de outros grupos ou às custas do resto da nação, privilégios estes que podem significar o estabelecimento de leis que impeçam a livre concorrência ou o aumento de tarifas sobre a importação de produtos competitivos, afetando parcelas significativas de consumidores interessados.

Uma característica comum a qualquer grupo desejoso de ser especial: o grupo não pode deixar de ser minoria. Mesmo que grupos com interesses comuns se unam, convertendo-se então em maioria, as composições não podem ser tão explícitas. A ideia de minoria está ligada a ideia de transmitir a mensagem de que tal grupo é política, econômica e socialmente frágil, historicamente injustiçado, excluído pelo sistema opressor. A ideia de minoria precisa estar presente, então, no imaginário da sociedade, mesmo quando numericamente não faz sentido como no caso das mulheres, ou a exemplo dos nada frágeis grupos de pressão ligados à indústria ou ao agronegócio.

Talvez o principal problema de um grupo de pressão é que os privilégios almejados e obtidos conferem aos seus membros uma posição especial, em detrimento de outras parcelas da sociedade; os grupos de pressão recebem algo que é negado a outros grupos.

No passar das épocas surgem novos grupos de pressão que resultam em novas políticas e gastos de milhões e bilhões de reais para sustentar privilégios. E cresce o número dessas minorias às expensas da maioria que, embora crescentes, não deixam de ser "pequenos". 

As minorias alimentam um sistema que demanda continuados aumentos de gastos públicos e de impostos. 

E o país vai ficando cada vez mais caro e dividido.

3 comentários:

Anônimo disse...

Alguns dos mais fortes grupos de pressão, que lutam para que não sejam percebidos e criticados pela mídia e pela população em geral enquanto agem de forma nefasta aos interesses em comum:
- Grupo de pressão do sistema financeiro - consegue hoje manter a SELIC alta até 2024, obtendo rendimentos financeiros com o dinheiro parado, não investido, e empurrando juros altos aos produtores;

- Grupo de pressão da exportação da carne - a carne virou salsicha com ovo na mesa dos mais pobres;

- Grupo de pressão da liberação de drogas - questão de tempo para conseguir o que quer no STF, estimulando o aumento de zumbis nas ruas e oneração do SUS

Anônimo disse...

Excelente reflexão, de fato os grupos são minoritários apenas por uma questão de conveniência o que torna o abismo social ainda maior

Anônimo disse...

Obrigado aos que comentaram. Registrem seus nomes na próxima vez. Boa noite.