15 dezembro, 2022

Resposta ao apóstata Kléber Lucas

Por Sandro Moraes 

A polêmica da semana com amplas reverberações no meio evangélico foi protagonizada desta vez pelo cantor gospel Kléber Lucas, que tem se notabilizado, nos últimos tempos, mais pelas estultícias que pelo seu talento musical. Á propósito, volta e meia surge para os seus 15 minutos de fama algum ícone gospel ou antiga referência entre as igrejas com alguma heresia do momento para chamar a atenção da pior forma que se pode conceber. Uma das últimas  e mais chocantes declarações veio do pastor Batista Ed René Kivitz, ao defender a necessidade de "atualização" da Bíblia para agradar aos entusiastas das "igrejas inclusivas". Kléber Lucas não foi tão longe, mas ainda assim ultrapassou os limites da ortodoxia e do bom senso ao afirmar que o conhecido Hino "Alvo mais que a neve" é de conotação racista.

 

A fala do cantor começou a atrair a atenção quando compartilhou nas redes sociais trecho de sua participação no Mídia Ninja, rede de mídias atuantes em centenas de cidades brasileiras com abordagem política progressista. No vídeo em que Kléber Lucas aparece sendo entrevistado pelo ícone da MPB, Caetano Veloso, o pastor da Batista Soul fala sobre racismo. Ele afirma que o hino "Alvo mais que a neve", que está presente na Harpa Cristã da Assembleia de Deus, e no HCC (Hinário para o Culto Cristão), hinário oficial das Igrejas Batistas do Brasil, é racista. 

 

Sem entrar em muitos detalhes sobre a fala de Kléber Lucas, a sua acusação de racismo em um hino que integra a quintessência dos cânticos litúrgicos do cristianismo nos últimos dois séculos merece uma avaliação de natureza espiritual, lógica e teológica. Talvez até mesmo em sentido escatológico o fato tenha algo a nos alertar.

 


Principiamos pela publicação da própria letra do hino na antiga e clássica versão do Cantor Cristão.

 

Alvo mais que a neve (Hino 123 Cantor Cristão) (Latta/Perkins)

Seja bendito o Cordeiro
Que na cruz por nós padeceu
Seja bendito o Seu sangue
Que por nós pecadores verteu

Eis, nesse sangue lavados
Com roupas que tão alvas são
Os pecadores remidos
Que perante teu Deus hoje estão

Coro

Alvo mais que a neve
Alvo mais que a neve
Sim, nesse sangue lavado
Mais alvo que a neve serei

Quão espinhosa coroa
Que Jesus por nós suportou
Oh, quão profundas as chagas
Que nos provam o quanto Ele amou

Eis nessas chagas, pureza
Para o mais torpe pecador
Pois que mais alvos que a neve
O Seu sangue nos torna, Senhor

Coro

Se nós a Ti confessarmos
E seguirmos na Tua luz
Tu não somente perdoas
Purificas também, ó Jesus

Sim, e de todo pecado
Que maravilha desse amor
Pois que mais alvos que a neve
O Teu sangue nos torna, Senhor


Resposta impaciente à tolice 

Curiosa é a falta de lógica e a expressão de um completo emburrecimento do ser ocasionado pela adoção indevida de ideologias humanistas anticristãs, evidenciados num trecho da fala de Kléber Lucas. Como pode haver racismo num hino cantado com lágrimas - pra usar as próprias palavras do cantor - sem que nenhum negro ou mestiço (ou branco) tenha notado isso em mais de um século desde a composição do hino?* Se houvesse racismo na letra, pelo menos um negro deveria ter se sentido ofendido em cerca de 140 anos da presença do hino no culto cristão. Mas parece que Kléber Lucas foi o único "inteligentão" a identificar tal racismo. 

 

Dizer que ideias de embranquecimento estão embutidas na canção, sendo ela fruto de um "sagrado pensado a partir de uma teologia eurocentrada" é de uma burrice gigantesca. Dá preguiça responder a tanta asneira, mas vamos lá. A teologia do hino 'Alvo mais que a neve' não tem a ver com ideologias do europeu branco (e opressor, presumo) e sim com uma teologia ensinada na própria Bíblia. Analisaremos as passagens que serviram de inspiração para a criação da letra do hino.

 

Salmo 51.7 

"Purifica-me com hissopo, e ficarei limpo; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve".


"Ficar mais alvo do que a neve" aqui não é nenhuma expressão de racismo ensinada e inspirada pelo próprio Deus. Na verdade em toda a passagem o salmista Davi faz uma declaração poética sobre o ensinamento bíblico da purificação realizada por Deus na vida de todo aquele que se arrepende de seus pecados e crê na palavra divina, em contraponto a realidade expressa nos versículos anteriores desse salmo que falam sobre a pecaminosidade humana. 


Isaías 1.18

"Ainda que os pecados de vocês sejam como o escarlate, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, eles se tornarão como a lã".

Observe que o branco como a neve não se contrasta com o negro, e sim com o escarlate, um vermelho vivo cujo tom pende para a cor laranja. Aqui as ideias de pureza e purificação estão presentes.

As palavras escarlate e carmesim são aplicadas na Bíblia como símbolos do pecado, ou seja, servem para falar de forma figurada do pecado com muito mais intensidade. O escarlate ou carmesim era um corante difícil de ser lavado e lembrava o sangue. Talvez era essa ideia que os autores bíblicos tinham em mente quando usavam essa cor como referência para a impregnação do pecado.

O profeta Isaías registra, então, por meio da expressão "brancos como a neve" o convite e promessa graciosos de Deus de purificar os que estão manchados pelo pecado. A purificação é tornar algo puro, completamente limpo. No Novo Testamento o sangue de Cristo não mancha, ao contrário, é essencial para a purificação espiritual do homem. "Brancos como a neve" é ainda alusão ao forte impacto resultante do perdão divino sobre o pecador que recebe a qualidade de ser puro ou recebeu de Deus a completa limpeza do ser.

Em Apocalipse 22.14, os bem-aventurados que lavam as suas vestes são os que foram lavados por Deus, ficaram completamente limpos, livres da sujeira do pecado; receberam a pureza de coração, virtude teologal recebida por meio da palavra da verdade (João 17.17) que permite melhor entendimento dos mistérios divinos e que permitirá aos limpos de coração ver a Deus (Mateus 5.8).

Três passagens foram a base de inspiração do hino "Alvo mais que a neve". 

Em resumo, "alvo mais que a neve" significa que, embora os homens estejam manchados e sujos pelo pecado, Deus pode limpar esses pecadores, torná-los alvos ou brancos como a neve.

O grande ensinamento dos textos escriturísticos estudados é que é tempo de responder ao chamado de Deus, abandonar o pecado, ser perdoado e reformado pelo Pai celestial, e viver de modo belo, mais alvo ou mais branco que a neve.


O veredito

1 - Ao acusar o hino de ser racista, Kléber Lucas está acusando o próprio Deus de racismo. O cantor não está rejeitando apenas o hino; ele rejeita o próprio Salvador que promete ao que crê torná-lo "mais alvo que a neve".

2 - Abraçar ideologias progressistas tão claramente incompatíveis com a natureza da vida cristã irá levar ao abandono da fé. Exemplos pra comprovar isso não faltam. Vai uma advertência aos cristãos: Cuidado! Não compactue com o identitarismo, feminismo, teoria queer, pensamentos sobre a (in)justiça social, racismo estrutural, teoria pós-colonial, etc. Em algum momento de crise, o indivíduo terá que escolher entre essas ideologias e a fé cristã. Misturá-los não é logicamente possível; estão em extremos mutuamente excludentes.

3 - Adotar ideologias progressistas leva ao extremo da burrice, do analfabetismo funcional. Existe alguma cor melhor que o branco para simbolizar a limpeza feita por Deus no homem? Existe alguma metáfora melhor que o branco ou "alvo mais que a neve" para expressar a transformação divina operada no coração do homem? Não é necessário ter acesso a estudos linguísticos para chegar a essa conclusão. É conhecimento básico, mas parece que Kléber  Lucas foi incapaz do insight mais simples, de tão cego por adotar teorias racialistas. Outra possibilidade é a de livre exercício da vigarice com a deturpação deliberada do sentido do hino. 

4 -  Confundir símbolos bíblicos com racismo é inaceitável e pecaminoso.

5 - Kléber Lucas quer agradar, indevidamente, um branco representante da elite burguesa progressista: Caetano Veloso, um ateu convicto.

6 - Kléber Lucas é um exemplo assustador de que rejeitar a verdadeira fé e apostatar é um risco real. Existem advertências nas Escrituras Sagradas de que casos de apostasia irão se multiplicar nos últimos dias.

7 - Kléber Lucas, arrependa-se, se é que isso ainda seja possível. 


"Não se ponham em jugo desigual com os descrentes. Pois que sociedade pode haver entre a justiça e a iniquidade? Ou que comunhão existe entre a luz e as trevas?" (2 Coríntios 6.14)


*O título original do hino é "The Blood of the Lamb" (O Sangue do Cordeiro). Foi escrito por Eden Reeder Latta e musicado por Henry Southwick Perkins em 1881 nos EUA. 

 


11 comentários:

Anônimo disse...

Excelente, suas observações foram precisas

Sandro Moraes disse...

Obrigado pelo comentário. Somos servos do Senhor. Bem vindo.

Anônimo disse...

Num exercício básico de interpretação de texto a nível de ensino fundamental se consegue perceber que não há nenhuma referência a cor de pele e distinguir que o ALVO faz referência às VESTES BRANCAS quando lavadas com o sangue, citadas em várias passagens bíblicas. Vestes espirituais que significam purificação. A imagem mental que se faz é de uma pessoa ( independente de sua cor) vestida com roupas brancas como a neve ao ser lavada com sangue ( ao invés de manchadas de vermelho.

Rachel Azulay

Anônimo disse...

Bem vinda, Rachel. Pois é, muitos memes, muitas ironias foram feitas por pastores sobre esse tosco de Kléber Lucas. Como não creio que ele seja tão burro, creio em torção deliberada do significado da frase "alvo mais que a neve", postura típica dos apóstatas. Vou reproduzir algumas piadas que me lembro que vi na internet. Coisas como: Kléber Lucas pinta as paredes da sua casa de preto? (Já vi que as paredes da mansão dele são brancas). Kléber Lucas não aparece na umbanda usando roupas brancas? Os adeptos da umbanda não usam roupas brancas? Agora piadas com a modificação da letra do hino.

Preto mais que o carvão (essa foi de um cantor gospel)
Preto mais que um carvão
Sim neste sangue lavado por Deus
Mais preto que o carvão serei (funcionou?).

Outra. Rapah, minha roupa está suja, tá toda branca. Vou limpar pra ficar limpa na cor de terra preta.

Resumo: ser herege significa abrir mão do bom senso e da inteligência.

Sandro Moraes

Anônimo disse...

Correção: no comentário acima, onde está escrito "tosco" a expressão correta é "erro tosco".
Sandro Moraes.

Anônimo disse...

Efraim

Na antiguidade, nas história mais remotas de nossa civilização os reis reinavam com destreza, justiça e equidade, e até mesmo no antigo testamento, a qual o Governo era teocrático (O governo de Deus sobre os homens). Por tanto, uma legislação divina onde as decisões partiam de Deus e não do homem. Os reis eram escolhidos e levantados por Deus, e ungidos pelo profeta. Infelizmente, quando houve a transição do Sistema monárquico que seguia a tradição judaico para o sistema democrático da Grécia Antiga, os homens se tornaram autônomo, independentes de Deus. Esta geração passou a dizer em seus sistemas, instituições sociais, formas de poder e nos círculos de convivências sociais, que Deus não é mais necessário, e que ele poderia até ter existido nas civilizações antigas, mas que não passa de uma mera hipótese, e isso ficou consolidado maís ainda quando houve a transição da sociedade medieval para a sociedade moderna. A revolução industrial, o renascimento e o iluminismo ou idade das luzes, fomentou e construiu uma sociedade sem Deus, sem respeito pelas coisas divinas, sem respeito pela família, o que temos de mais sagrado na civilização ocidental. As revoluções científica e sexual desencadeou em massa uma histeria social, uma pluralidade, falta de sentido, e qualquer experiência é valida, desde que, o homem seja o centro do universo. Um certo filósofo antigo disse que "o homem é a medida de todas as coisas". Um humanismo excêntrico onde a soberba humana é o culto de si mesmo, ego inflado.

Anônimo disse...

Sandro Moraes

Muito boa a sua reflexão. Só não concordo em dois pontos: as revoluções científica e industrial foram benéficas para a humanidade e vejo essas duas revoluções como manifestação da graça comum de Deus. No mais considero sua análise muito interessante. Abraço, bro

Anônimo disse...

Respondendo a questionamentos, não sei porque algumas pessoas não conseguem postar comentários. Nas configurações deixei liberado para comentários até de anônimo.

Sandro Moraes disse...

Fiz uma modificação num recurso pra saber se lá estava a origem do problema.

Sandro Moraes disse...

Creio que a dificuldade existe só para quem comenta pelo celular.

Sandro Moraes

Anônimo disse...

Depois da queda do homem pelo pecado, a alma só pode ter duas cores: vermelha ou branca! Nunca preta!
O branco e o preto, pode até ser cor de pele, mas não de alma!
Se a alma é vermelha, estará em pecado e sem arrependimento fatalmente morrera. Se a alma é branca, é porque já foi lavada no sangue do cordeiro Jesus Cristo, e certamente viverá.
Se alguém se ocupa em elocubrações fantasiosas; coisas a exemplo da narrativa original que induziu o primeiro casal ao erro. Esse alguém é instrumento do pai da mentira, e terá o mesmo fim de Lúcifer, pois, tornou-se um boneco em suas mãos; um papagaio repetidor de asneiras concebidas nos purões do inferno, cujo mentor mor é o próprio Satanás. Uma lástima! Pode Crer 🙏