14 janeiro, 2010

Ame a Deus por Ele mesmo, sirva-O por nada

Por Sandro Moraes

Jeremias 29.13
Vocês me procurarão e me acharão quando me procurarem de todo o coração”.

A primeira compreensão que deve habitar a vida de todo aquele que crer é que Deus não pode ser encontrado por acaso. É encontrado somente no propósito de uma busca sincera. Outra verdade é que ninguém, que pense encontrar a Deus interessado em alcançar outra coisa, o encontrará mesmo que encontre a outra “coisa”. Mais: aquele que busca outra coisa fingindo buscar a Deus estará sozinho, porque mesmo conquistando algo, nada possui, porque não possui o “tudo”.

Quem teve um encontro com Deus, encontrou o significado da vida, posto que a vida sem Deus é pura existência, desprovida de vida. Diante de tudo isto, sendo Deus quem é, devemos buscá-Lo e amá-Lo por Ele mesmo, devemos servir-Lo pelo que é e nada mais. Devemos amá-Lo e servi-Lo sem buscar nada em troca. Lembre-se: Deus é e jamais devemos entendê-lo como meio de obter qualquer outra coisa.


Como disse A.W. Tozer:
“Quem quer que busque a Deus como um meio para atingir um fim desejado, não encontrará Deus. O Deus poderoso, o criador dos céus e da terra, não será um dentre muitos tesouros, nem sequer o maior deles. Ele será tudo em todos ou nada será. Deus não se deixa manipular”.

A despeito da advertência bíblica de que Deus não se deixa enganar, que não pode ser manipulado, há uma prática crescente nos púlpitos de “igrejas” enfatizando que Deus pode ser manipulado sim para atender aos desejos dos crentes. Em lugar de servir, o homem passou a ser servido por Deus. Os conceitos desfigurados e pervertidos acerca do Criador estão de fato levando muitos a se empenharem num esforço moderno para manipular o sagrado. Até as verdades de que ‘tudo é possível ao que crer’ ou ‘tudo posso naquele que me fortalece’ estão sendo usadas para que o desejo egoísta do homem suplante a vontade soberana de Deus.

Existem relatos conhecidos, tais como: “quanto mais você der para Deus, mais ele vai te abençoar (com dinheiro, claro). Traduzindo, dar dízimos ou contribuir com ofertas se tornaram sinônimo de investimento numa bolsa de valores espiritual. Se eu não der o dízimo Deus vai deixar de me amar e serão interrompidas as bênçãos do céu..., ou seja, estamos lidando com um Deus egoísta e interesseiro, antropocêntrico, modelado conforme a imagem e semelhança do homem e que, por isso mesmo, pode ser persuadido, subornado. Ele trabalha para o homem se for bem pago pra isso. É igualmente submisso. Ouço com muita freqüência relatos de que em alguns cultos dizem que Deus se torna obrigado, diante da oferta no altar, a abençoar o ofertante, nem que para isso os “pastores” tenham que pressioná-lo contra a parede. Até antevejo num futuro não muito distante a frase “vamos apertar o pescoço de Deus até que ele te abençoe” sendo proferida em púlpitos espiritualmente vazios. São igrejas que ensinam e estimulam uma fé utilitarista, interesseira e por isso mesmo ilusória. Em tempos de reavivamentos de paganismos e apostasia crescente, a fé se transformou em mercadoria, um produto vendido por meio de eficientes estratégias de marketing para crentes, ou melhor, clientes que querem e devem ter os seus desejos atendidos, já que pagam por isso, em detrimento da vontade de Deus. São expressões pós-modernas de um “cristianismo” falido. São igrejas materialmente cheias, mas espiritualmente mortas, apesar das (pseudo)aparências de poder. A tragédia resultante é que multidões querem a salvação, não um salvador; estão interessadas na “benção”, não no doador. Essa fé descompromissada e privatizada é muito bem expressa e resumida na frase: “hoje vou a igreja buscar a minha benção, ou o meu milagre”. Percebeu como a procura não é pelo abençoador? Você consegue perceber também a sutileza da mensagem nas entrelinhas? Deus não é o Todo-Poderoso, antes um ser divino reduzido a um ser que tem por obrigação satisfazer as egolatrias humanas, que só faz milagres em determinados templos seguindo ordens humanas. Até as (in)compreensões das palavras ‘benção’ e ‘milagre’ foram vulgarizadas. E em meio a tantas amarras, e decretos, em lugar de “seja conforme a tua vontade”; em meio a tantos “eu exijo, reinvidico deus”, em vez de “eu te peço, te suplico, Senhor”, em meio a tantas manifestações de histeria e infantilismo (emocionalismos, unções que não estão na Bíblia, cultos para pisar na cabeça do diabo, etc) perdeu-se Deus de vista. Nesse emaranhado de espiritualidades alienantes que leva as pessoas de um lado para o outro à procura da melhor benção, Deus se tornou o meio e não o começo e o fim.

Porém, Deus não se deixa manipular. Como ser finito, o homem não pode manipular o sagrado, o que é uma atribuição exclusiva do divino. Existe uma necessidade premente na igreja evangélica brasileira de um retorno a um cristianismo bíblico e saudável. Dízimos e ofertas precisam ser vistos como expressões de adoração, fidelidade e gratidão pelo amor e dádivas divinas somente; o dinheiro, como investimento em vidas e nas coisas do reino para a glória de Deus, não como instrumento de negociata, de barganha com o sagrado. Em adição: viver em abundância como expressão de uma vida abençoada tem mais a ver com bênçãos espirituais do que propriamente materiais. E todo aquele que anda com Deus é bem-sucedido em todos os aspectos da vida, porque o Senhor é com ele, a despeito das adversidades ou mesmo quando tudo em redor parece espinhos e desertos. E conforme os ensinamentos do próprio Senhor Jesus Cristo registrados em Lucas 9.23, Deus não quer 10%, mas 100% do nosso ser com inteireza do nosso coração.

E quanto aos que “buscam” o Pai Celestial para ficar ricos é de grande valia as exortações paulinas encontradas na primeira carta a Timóteo 6.3-11 que diz que a piedade não é fonte de lucro e sim, o viver com contentamento; os que cobiçam o dinheiro e querem ficar ricos caem em tentações e armadilhas para a própria destruição; com o desvio da fé são atormentados com muitos sofrimentos, pois o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males.

Fuja de evangelhos capitalistas mercenários que inclusive invertem os conceitos de Deus e do diabo. Algum tempo atrás a esposa de um conhecido jogador brasileiro de futebol disse, como prova de benção-recompensa divina, que em plena crise mundial Deus acumulou dinheiro num grande clube europeu para contratar o seu marido. Ora, um Deus-cédula-dollar-euro que faz acepção de pessoas e entende ser prioridade a contratação de um jogador quando (só pra citar um exemplo entre milhões) em países como Moçambique pessoas comem ratos para não morrer de fome é o deus-diabo, conceitualmente falando. Não julgo e nem duvido da fé do casal, o problema é que eles são escravos espirituais de mentores cujo estilo de vida é no mínimo questionável.

“Percebo claramente que a Igreja Evangélica tornou-se um tremendo campo missionário. A liderança deve voltar a pregar o simples e genuíno evangelho...”, disse o pastor Marcelo Gualberto. Ou seja, os evangélicos precisam ser (re)evangelizados e convidados a se submeter ao senhorio de Cristo.

Longe dos cultos-shows, de púlpitos-espetáculos, das ditaduras dos ministérios de louvor comerciais, de igrejas-comércios, das teologias antropocêntricas e dos escândalos, devemos buscar a Deus por Ele mesmo e nada mais, e a razão é simples: porque Ele é Deus. Essa é a razão para a qual fomos criados, para um relacionamento de entranhas com o Criador. Devemos lembrar-nos que o primeiro e maior mandamento é amar a Deus com todas as fibras do nosso ser.

Devemos, portanto, permitir que Deus nos capacite a amá-lo por ele mesmo descobrindo então uma fonte de tesouros incontáveis que necessitam ser recebidos com gratidão reverente como sendo o transbordar do amor de Deus por seus filhos.

Deus quer ser o centro de nossa vida sem rivais; que o amemos sem outras razões ocultas e egoístas para que Ele seja o nosso tudo. Finalizo com as palavras do Senhor Jesus: “Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas” (Mt 6.33).

4 comentários:

Clovis Cabalau disse...

O engano da teologia da prosperidade, como suas ministrações mercantilistas sobre dízimos e ofertas, tem levado pastores e algumas denominações ao descrédito, sem falar na geração de crentes superficiais e caçadores de bênçãos que lotam as igrejas mundo afora. Nosso papel é esse: desmascarar esses mercenários da fé e pregar o verdadeiro evangelho de Cristo. Parabéns pelo blog.

leila disse...

PARABÉNS PELO BLOG!AMEI OS TEMAS ABORDADOS, ELUCIDAR COM A VERDADE É EXCELENTE!

'' E CONHECEREIS A VERDADE E A VERDADE VOS LIBERTARÁ"

Anônimo disse...

Olá Sandro. Excelente artigo.
Acredito que o homem, depois da queda, tem que conseguir seus bens pelo fruto do seu trabalho. Isso quer dizer que, num modelo capitalista,onde o sistema democrático consegue sobreviver melhor, uns vão ser mais ricos que outros sempre. Se queremos ser ricos ou viver com boas condições temos que suar bastante... Ser cristão refere-se a um outra riqueza que é a espiritual. Porém adotar o verdadeiro cristianismo sempre repercutirá na melhor qualidade de vida do ser humano. Prometer bençãos materiais como finalidade mater do cristianismo é enganar o povo, que acha que pode ter no evangelho um atalho pra ser rico. Com tanta gente pobre no mundo, falar de riqueza material no pulpito é uma exceklente estratégia para encher as igrejas e enriquecer falsos pastores. Por isso sou contra essas campanhas de prosperidade.

Ah, vc viu essa postagem do blog do Marco Deça? Que vc acha? Abracos.

http://colunas.imirante.com/marcosdeca/2010/02/18/a-teologia-da-prosperidade-e-o-aliciamento-de-evangelicos/comment-page-1/#comments


Marcio Freire

Sandro Moraes disse...

Marcio Freire, obrigado pelo comentário. Acredito que a verdadeira igreja de Cristo, cujas portas do inferno não prevalecem contra ela, como disse o próprio Senhor Jesus, exista universalmente. Só que o joio cresce junto com o trigo e na atualidade ganha mais visibilidade. O problema é que o joio confunde-se com o trigo, mas é joio, e tem nomes: são telepregadores e animadores de púlpito que não passam de estelionatários da fé. São falsos curandeiros e falsos profetas também. Não suporto ficar calado. O silêncio me consome. Denunciá-los com sabedoria é nossa missão. Quanto ao texto de Marco D'eça, é isso mesmo. Pura e triste verdade. Lamento! Quem vai separar o joio do trigo é Jesus Cristo. Valeu, Márcio!