08 abril, 2010

Vampirismo do bolso e da alma



Insuportável: mesmo que preciso e paradoxalmente insuficiente, o termo é bastante apropriado para descrever o nauseante cenário do evangelicalismo tupiniquim. Nauseante e confuso, realidade que também pode ser definida como babel, tamanha é a confusão e mistura da verdade com o erro no meio daquilo que se convencionou chamar de igreja evangélica. 

Conceituar o que é ser evangélico tornou-se um desafio a tal ponto que se torna perigoso alguém apresentar-se como tal, já que grande é o risco de ser confundido com tudo aquilo que é tortuoso, de mau-caráter, salafrário, mercenário ou idiota, dependendo do contexto em que essa rotulação é apresentada. Já não há mais referências precisas. Se até meados do decênio de 1990, evangélico era alguém confiável, com retidão de caráter, desejável de muitas empresas, não apreciador das bebedeiras, noitadas ou baladas, freqüentador de igreja, adorador de Cristo, afeiçoado à oração, à leitura da Bíblia e a verdadeira espiritualidade, hoje evangélico é, aos olhos de boa parcela da sociedade, alguém indefinível, indecifrável, alienado, é tudo exceto alguém relacionado ao evangelho de Cristo.

02 abril, 2010

Quem é Jesus para você?

“Quem vocês dizem que eu sou”? Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.15,16).

O arcanjo Miguel para o adventismo; espírito evoluído e iluminado, porém não-divino, para o espiritismo; um grande mestre no budismo; mensageiro ou profeta, contudo menor que Maomé, não sendo Deus, nem seu filho segundo o islamismo; um espírito pré-existente criado por Deus, irmão de Lúcifer, casado, polígamo, de nenhum modo gerado pelo Espírito Santo, muito menos filho de Deus no mormonismo; o arcanjo Miguel também e um deus menor que Jeová consoante as testemunhas de Jeová ou mais um guru ou mestre iluminado, como foi Buda, Krishna, Confúcio e outros grandes fundadores de religiões conforme as filosofias esotérico-sincretistas orientais da nova era. Mostram tais afirmações como podem ser variadas as noções dos mais diversos matizes religiosos acerca de Jesus Cristo. Equivocadas também, tendo em conta as declarações do próprio Jesus acerca de Si mesmo, muito embora tais noções evidenciem respeito ou de algum modo o reconhecimento do impacto singular ocasionado por Ele na história.   

E para você, quem é Jesus Cristo?

24 março, 2010

A loucura da cruz

“Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus” (1Co 1.18, ARA).


Ao escrever esta Primeira Epístola aos Coríntios, o apóstolo Paulo revela a pressão e os desafios de uma igreja iniciada num contexto cultural e religioso pagãos. Havia graves problemas espirituais e morais no estilo de vida da igreja de Corinto. Discórdias, facções, imoralidades, ações judiciais, abuso dos dons espirituais e práticas questionáveis na Ceia do Senhor formavam a pertubadora visão de uma igreja que precisava de uma ruptura extremada com as tradições helênicas politeístas idólatras. Era necessário romper com os maus costumes e com o pecado que ameaçava a existência de uma igreja imatura, apesar dos diversos dons espirituais que capacitavam muitos membros para o serviço cristão santo e produtivo.

18 março, 2010

O não-perdão como desconstrução da vida

“Enquanto apedrejavam Estêvão, este orava: ‘Senhor Jesus, recebe o meu espírito’. Então caiu de joelhos e bradou: ‘Senhor, não os considere culpados deste pecado’. E, tendo dito isto, adormeceu” (At 7.59,60).

A semelhança das palavras do primeiro mártir da história da igreja com as palavras do Senhor Jesus quando pediu ao Pai que perdoasse os pecados daqueles que o crucificavam e zombavam dele (Lc 23.34), nos deixa um grande exemplo de perdão. E numa situação de violência extrema. Seríamos capazes de perdoar como Estêvão perdoou os seus algozes? Sim, se tivermos a nossa vida debaixo do absoluto controle e soberania de Deus, se estivermos cheios do Espírito Santo e do amor divino. Não é desejo de Cristo que venhamos a retribuir o mal com o mal. Embora nossa atitude natural seja a de desejo por justiça e vingança no lugar da misericórdia quando somos ofendidos, perseguidos, caluniados ou maltratados, o modelo deixado pelo herói da fé deve inundar profusamente a nossa mente e coração. Se Estêvão guardou o exemplo do Senhor Jesus, nós também podemos guardar o mesmo. Não digo que seja fácil perdoar, mas o perdão não pode ser dificultado, tornado pesado, além de ser uma exigência do Pai.

16 março, 2010

O perdão como purificação da alma

Mágoa: sentimento-experiência comum a todos. Os relacionamentos não estão sempre alicerçados na simplicidade. Tantas são as diferenças entre as pessoas que o peso das variadas experiências de vida, personalidades, projetos, objetivos, sonhos ou simples desejos faz com que haja choques, colisões frontais, puxada de tapetes, competições, rivalidades, inimizades.  

Mais do que as adversidades e espinhos da existência, são as pessoas que mais nos magoam, e nós magoamos outras pessoas também. É surpreendente a capacidade que temos para ferir até a alma mesmo com os gestos mais simples, porém marcados pelo egoísmo. Já testemunhei relacionamentos entre amigos ou mesmo irmãos que muito se amavam, transformarem-se em relacionamentos amargos, nada amistosos, até moral e fisicamente agressivos, ocasionados por conflito de interesses. A comunicação é rompida, dando lugar a uma gelada indiferença. As palavras de admiração, carinho e amor quando não substituídas pelo silêncio, são suplantadas pelas tentativas de desconstrução da imagem do outro com o vociferar de uma verdadeira tsunami de palavras maledicentes.

08 março, 2010

Valorização da mulher: o legado de Cristo

“Jesus de Nazaré é incomparável em seu impacto sobre as mulheres. Ninguém fez tanto para elevar a dignidade da mulher em geral e da maternidade do que Jesus Cristo.” (Tim LaHaye)

Mais um 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Há muito para ser celebrado, igualmente tanto para ser lamentado. Se a data ainda existe dentro de um colossal esforço para associá-la a uma conscientização, significa dizer que tem sido roubado o direito da mulher de existir no mundo com o devido reconhecimento de seu papel.  

02 março, 2010

Alarmismo inadvertido

“Nação se levantará contra nação, e reino contra reino. Haverá fomes e terremotos em vários lugares. Tudo isso será o início das dores” (Mt 24.7,8 - NVI).

Por Sandro Moraes

O terremoto ocorrido no Chile no fim de semana menos de dois meses depois do terremoto do Haiti, oitocentas vezes mais forte, embora com quantidade bem menor de vítimas porque a origem do tremor foi no oceano, impulsionou os alarmistas a apregoarem que o fim do mundo está próximo ou que o retorno de Cristo é iminente. O texto bíblico imediatamente lembrado é o do Evangelho de Mateus supracitado. Esses dois versículos estão inseridos num contexto em que Jesus Cristo indicava os sinais de sua vinda em resposta à pergunta dos discípulos: “Dize-nos, quando acontecerão essas coisas? E qual será o sinal da tua vinda e do fim dos tempos?” (Mt 24.3b).

De acordo com Tim LaHaye:

“Por causa de sua assustadora intensidade, os tremores de terra foram sempre considerados um sinal do juízo de Deus, ao menos desde Sua destruição de Sodoma e Gomorra. Os terremotos têm sido o meio de Deus chamar a atenção do homem. Quando as coisas vão bem e o homem sente-se seguro, ele raramente pensa em Deus. Entretanto, quando seus arranha-céus “à prova de tremor de terra” começam a balançar, o homem olha para algo maior do que ele. O tremor de terra vigoroso horroriza o homem. E bem que deve.”[1]


26 fevereiro, 2010

Campanha da Fraternidade 2010: lema dúbio?

Recém-lançada no país, a ecumênica Campanha da Fraternidade 2010 tem alimentado os mais variados comentários, sobretudo em razão do seu lema “Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro”. O tema da campanha “Economia e Vida” e as explicações adicionais publicadas em diversos veículos midiáticos, sugerem que a intenção da CNBB juntamente com alguns segmentos protestantes é fazer contundentes críticas às injustas realidades sócio-econômicas e políticas brasileiras. Crítica aos políticos, ao governo, aos bancos, ao capitalismo neoliberal e à sociedade pós-moderna que encontra no dinheiro a medida de todas as coisas.

A suspeita de que o lema é dúbio e faz uma disfarçável alusão às igrejas evangélicas ganhou corpo na internet. Perdendo rebanho há duas décadas num fluxo que não dá indicações de parar, a igreja católica estaria implicitamente apontando o dedo para um segmento religioso que cada vez mais ganha relevo e adesões por efeito da controversa teologia da prosperidade.

17 fevereiro, 2010

Quatro marcas de um verdadeiro discípulo de Cristo

Por Sandro Moraes

O senso-comum no diversificado cenário religioso com freqüência leva a impressões inexatas do que seria um discípulo de Jesus Cristo. “É uma pessoa muito religiosa, que vai muito à igreja, todo domingo está lá, só fala de religião”..., talvez dissesse alguém. “É aquele que ora muito, e por mais tempo, ora boniiito!”, diria outro. São alguns exemplos que mostram que as noções mais comuns acerca do que seria trilhar os caminhos do Salvador, alicerçam-se em exterioridades, nos ativismos, nas aparências religiosas, no levantar de mãos, no fechar de olhos, ou até mesmo nas máscaras qual bailes de carnavais, só que colocadas para ocultar as coisas desagradáveis do ser dentro do ambiente religioso: o dia de culto é o momento de forjar uma aparência piedosa para ser apenas mais um “crente” ou para ser aceito, admirado, para ganhar status..., podem ser inúmeras as razões para não exteriorizar as podridões do homem interior.

Numa noção mais abrangente, o discípulo de Jesus seria toda pessoa de qualquer religião que sinceramente está em busca da verdade e sendo, por assim dizer, capaz de encontrar sua própria salvação.


05 fevereiro, 2010

A oração não respondida de Jesus no Getsêmani

Por Sandro Moraes

"Ó meu Pai, se possível for, passa de mim este cálice! Contudo, não seja como Eu desejo, mas sim como Tu queres" (Mt 26.39 – NT King James).

Um dos grandes mistérios e desafios para o homem é compreender o que parece ser um dos exemplos clássicos de oração não respondida, e feita logo por Jesus Cristo, no Jardim do Getsêmani, antes do seu caminho para a cruz. O silêncio aparente de Deus e o “não” como resposta são capazes de intrigar a mente humana mais perspicaz porque se dirigiram ao Deus que se fez carne para conviver conosco e que viveu uma vida inteira de obediência ao Pai Celeste.