25 abril, 2010

As bem-aventuranças como estilo de vida

o

(Mateus 5.1-12)

Vendo as multidões, Jesus subiu ao monte e se assentou. Seus discípulos aproximaram-se dele, e ele começou a ensiná-los, dizendo:

Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o Reino dos céus.

Bem-aventurados os que choram, pois serão consolados.

Bem-aventurados os humildes, pois eles receberão a terra por herança.

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos.

Bem-aventurados os misericordiosos, pois obterão misericórdia.

Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus.

Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus.

Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, pois deles é o Reino dos céus.

Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa, os insultarem, os perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês.

Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a sua recompensa nos céus, pois da mesma forma perseguiram os profetas que viveram antes de vocês.




Oito chaves, oito princípios apresentados como um chamado para um estilo de vida que distingue um filho de Deus, princípios que só têm valor se vividos na prática. São virtudes pontuadas como frutos de um caráter transformado pelo Pai, marcas visíveis em pessoas de carne e osso que dão a exata descrição do Reino de Deus nesta existência. O simples pensamento da possibilidade de pertencer a esse Reino nesta terra confere mais significação à vida, pois acima de tudo o sonho de muitos é pertencer ao Reino de Deus. Para os discípulos deve ter sido uma experiência indescritível saber que o Reino dos Céus pode ser vivido no “aqui” e no “agora”.     

Mas logo vêm o impacto e a frustração para mentes mais honestas e perspicazes após um questionamento: Podemos viver à altura desses padrões virtuosos? A resposta óbvia é não, malgrado o Sermão do Monte descreva os cidadãos que constituem o Reino de Deus. 
    
Se procurarmos na história humana alguém que tenha vivido plenamente os princípios das bem-aventuranças, não encontraremos ninguém que os tenha vivido com perfeição, pois tais virtudes só poderiam ser expressas por seres humanos perfeitos num mundo de gente imperfeita. É fácil responder que só o homem-Deus Jesus, como único ser perfeito na história, foi capaz de viver as bem-aventuranças com plenitude. Somente nEle encontramos o humilde e o manso impecável, o misericordioso e o pacificador perfeito, e o único puro de coração; ninguém teve igual fome ou sede de justiça, ninguém foi tão perseguido por causa da justiça e justiça perfeita de um justo igualmente perfeito.   

Se são alvos inatingíveis, então porque o mestre Jesus os ensinou como metas para nós? 

Reside precisamente na impossibilidade de atingirmos tal nível de perfeição proposta por Cristo o propósito divino de nos ensinar que precisamos reconhecer a necessidade de dependência de Deus. Reside na inatingibilidade de tais padrões a mostra da nossa incapacidade de sermos perfeitamente virtuosos pelos nossos próprios esforços. 

As Bem-Aventuranças são um “tapa” amoroso do Pai celeste para desfazer a ilusão das religiões de que é possível ser virtuoso a partir do desejo de viver a altura dos padrões de perfeição seguindo códigos de conduta moral. Por amor Deus diz alto e claramente: “não há progresso moral humano”. Olhamos para a história, para o passado e para o presente, e vemos que Deus tem razão: a degradação moral da humanidade nunca esteve latente nem nos dias da antiguidade. Vivemos dias de regresso, involução moral.   

As Bem-Aventuranças, portanto desmascaram as religiões e seus esforços inúteis, e fazem desmoronar suas pretensões blasfemas de chegar ao paraíso sem a necessidade de Deus, para entronizar o homem. As Bem-Aventuranças dizem: “As religiões e seus inspiradores são mentirosos”.   

Contemplamos a história e percebemos o “não” de Deus que atesta a nossa impotência para vivermos como homens-deuses, seres perfeitos como os descritos por Cristo Jesus. Projetamos o futuro e vemos algo nebuloso ou sombrio; restaria o niilismo? A desesperança num caminho contínuo de tortuosidades do homem nesta existência até o caos e a extinção?

Definitivamente a resposta de Cristo é "não". 

Com as Bem-Aventuranças Deus nos mostra qual era o seu projeto original para a humanidade. A partir do Éden Deus queria nos proporcionar uma qualidade de vida caracterizada por bênçãos ilimitadas, só que a raça humana desperdiçou este projeto com a desobediência; desejando viver na independência do Criador, acabou desperdiçando a qualidade de vida oferecida por Ele, sendo expulsa do paraíso. 

As Bem-Aventuranças são um chamado de Deus a um retorno para uma vida desfrutada na obediência a Ele e dependência dEle. A partir da primeira bem-aventurança dos “humildes ou pobres de espírito” Deus nos sacode para reconhecermos a nossa incapacidade de viver como bem-aventurados sem a presença dEle em nosso existir. E é na sensibilidade brotada na consciência por efeito da primeira bem-aventurança que podemos admitir as nossa falhas, os nossos pecados, estando em condições mais favoráveis de experimentar as bênçãos de Deus e de experienciar fagulhas do Seu reino perfeito neste mundo de imperfeições.   

Não podemos desprezar o fato de que Jesus deixou as Bem-Aventuranças como alvos para os seus discípulos de todos os tempos, um estilo de vida a ser desejado com todo o nosso ser. São um modelo de perfeição inatingível nesta existência que nos fazem declarar: “Pai, eu quero viver na dependência de ti, eu não consigo, eu não posso, mas Tu consegues e podes. Portanto, mesmo na incapacidade de vivermos os padrões de perfeição, devemos persistir em obediência. Reforço: as Bem-Aventuranças são um chamado a um retorno a obediência e dependência que foram perdidos no Éden mas que são restaurados por Deus agora.

Chama a atenção o fato de que Mateus usou a expressão “Reino dos Céus”, em lugar de “Reino de Deus”, um respeito à realidade cultural dos judeus de não mencionar o nome de Deus. De todo modo o ser humano não possui força ética ou moral para viver naturalmente conforme as ordenanças de Deus. Jesus Cristo, que viveu em perfeição, habita na forma do Espírito Santo na vida dos que nasceram de novo porque creram para ajudá-los, capacitando-os a viver uma nova vida nEle, marcada por uma revolução radical no caráter e na mentalidade; são cidadãos do Reino dos Céus e que o são pela dependência e obediência a Deus, sendo dirigidos por Ele. A plenitude dessa vida espiritual se cristalizará no futuro que devemos aguardar com grande expectativa e esperança. 

Tenho profunda certeza de que nas palavras de Cristo os discípulos encontraram razões para viver naquele presente com esperança sabendo o mesmo que agora sabemos: quando o paraíso for restaurado, viveremos no Reino dos Céus sem a mancha do pecado, sem as lágrimas ocasionadas pela dor porque toda dor será extirpada, todo sofrimento será esquecido porque jogado no mar do esquecimento; só haverá consolo e felicidade eterna e inefável. 

O termo bem-aventurado pode ser traduzido por uma felicidade que está além das emoções ou das circunstâncias. Felicidade que transcende as circunstâncias e os circunstantes, mesmo que sejam desfavoráveis ou antagônicos ao bem-aventurado. É alguém verdadeiramente feliz porque habitado pela paz e alegria que só os abençoados com a salvação em Cristo podem desfrutar, mesmo que  haja aflição e tempestades em volta. 

Embora sejam inatingíveis nesta vida, as Bem-Aventuranças precisam ser contempladas como ideais a serem experimentados como estilo de vida. Quanto mais nos aproximamos de Jesus pela imitação do estilo de vida do mestre perfeito, mais desfrutaremos das bênçãos do Reino dos Céus.

Por Sandro Moraes   

3 comentários:

Alexandre Pitante disse...

Paz, Sandro.

Belo texto. De fato não houve alguém que viveu a plenitude das bem-aventurancas.

Deus te Abençoe.

Abraço em Cristo, Alexandre Pitante.

Vanessa Dantas disse...

Não existe nada melhor que viver as bem-aventuranças do Senhor em nossas vidas e perceber os seus propósitos se cumprindo a cada dia...
Deus continue te abençoando queridos Sandro e Paola, amo vcs demaissssss!!!

Sandro Moraes disse...

Vanessa, Paz! Obrigado pelo comentário. Mande um abraço para o seu marido corintiano e pergunte pra ele: Hélio, vc sabe o que o corintians faz quando ganha a libertadores? Desliga o play station. A propósito, gostei da última postagem do seu blog: capacidade de explanar teologia profundamente adicionada a habilidades de oratória podem ser de fato subterfúgios para camuflar algo que não seja verdadeiro. Deus abençoe o casal.

E Alexandre Pitante, bom receber seu comentário também. Li a sua postagem sobre predestinação e livre-arbítrio e isso me inspirou a escrever um artigo. Muito em breve vou escrever sobre o tema envolvendo o que seria resposta ao questionamento "quem está com a razão?" Parabéns pelo seu blog. Abraço e que Deus continue te instrumentalizando.